A assinatura do memorando ocorreu durante a Cúpula de Presidentes do Mercosul e Estados Associados.
Da Redação

Em um novo movimento estratégico pela integração energética regional, os governos da Argentina e do Paraguai assinaram nesta terça-feira (2), em Buenos Aires, um Memorando de Entendimento que estabelece a criação de um grupo técnico binacional para estudar a viabilidade do Gasoduto Bioceânico. O projeto pretende interligar os campos de gás natural de Vaca Muerta, na Patagônia argentina, aos mercados do Brasil, atravessando o Paraguai pelo traçado da Rota Bioceânica.
A assinatura do memorando ocorreu durante a Cúpula de Presidentes do Mercosul e Estados Associados, e contou com a presença da ministra de Obras Públicas e Comunicações do Paraguai, Claudia Centurión Rodríguez, do ministro paraguaio da Indústria e Comércio, Francisco Javier Giménez, e do ministro argentino da Economia, Luis Caputo. O grupo técnico que será responsável pelos estudos será liderado por Federico Veller, da Argentina, e Julio Albertini, do Paraguai.
Segundo o governo paraguaio, a formalização da parceria representa mais um passo concreto para a construção do gasoduto — um projeto de 1.050 quilômetros de extensão que poderá mudar a geopolítica energética do Cone Sul. A infraestrutura conectará a rede argentina de gasodutos à malha brasileira por meio do Gasbol (Gasoduto Brasil–Bolívia), passando por regiões estratégicas do Paraguai e Mato Grosso do Sul.
Brasil já está envolvido
O acordo firmado entre argentinos e paraguaios nesta semana dá continuidade à articulação iniciada em fevereiro deste ano. Durante o Seminário Internacional da Rota Bioceânica, realizado em Campo Grande entre os dias 18 e 20 de fevereiro, o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, e o ministro paraguaio Francisco Giménez assinaram um primeiro memorando de entendimento, com o mesmo objetivo: desenvolver estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental para o gasoduto.
“Essa equipe técnica vai fazer o primeiro anteprojeto, o estudo de viabilidade do gasoduto. Mato Grosso do Sul precisa desse gás para o desenvolvimento da indústria. A ideia é trazer o gás de Vaca Muerta, passando pelo Chaco paraguaio, ao longo da rota bioceânica. É um trecho plano, sem rios, vales ou montanhas”, afirmou à época o ministro Giménez. Segundo ele, a obra será tripartite: 100 km em território argentino, 500 km no Paraguai e 450 km em solo sul-mato-grossense.
Impacto econômico e redução de custos
O gasoduto, orçado em cerca de US$ 2 bilhões, deverá ter capacidade para transportar 30 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia, conectando a cidade argentina de Campo Durán (Salta) a Campo Grande (MS). O traçado acompanhará o Corredor Rodoviário Bioceânico, hoje em fase final de pavimentação e que ligará o Centro-Oeste brasileiro ao Oceano Pacífico, via Paraguai, Argentina e Chile.
Além da segurança energética, o projeto tem potencial de reduzir em até 30% o custo do gás natural para o consumidor brasileiro. Hoje, o país importa gás boliviano ao custo de US$ 13 por milhão de BTU. O gás argentino, segundo estimativas do governo paraguaio, poderá chegar por US$ 8 a 10 por milhão de BTU, tornando-se mais competitivo e viável para uso industrial.
“Esse duto deverá impulsionar a reindustrialização do Brasil, com gás mais barato e abundante, e reativar cadeias como a petroquímica, a indústria de plásticos e fertilizantes”, destacou Juliano Franco, assessor do Ministério da Indústria e Comércio do Paraguai.
Oportunidade histórica para o Chaco e o Cone Sul
Segundo o governo sul-mato-grossense, o Gasoduto Bioceânico também deve impactar diretamente o Chaco paraguaio, região de baixa densidade populacional e carente de infraestrutura energética. A chegada do gás pode viabilizar a instalação de indústrias, atrair investimentos, gerar empregos e promover o desenvolvimento econômico local.
O governo aponta que combinando potencial energético e logístico, o projeto alinha-se à estratégia de integração física do Merscosul, criando um eixo estruturante entre o Atlântico e o Pacífico.
Para o Paraguai, representa a chance de se consolidar como corredor energético regional. Para a Argentina, é a oportunidade de expandir as exportações de gás e consolidar Vaca Muerta como uma das principais reservas de energia da América Latina.
Para o Brasil — especialmente para o Mato Grosso do Sul — trata-se de uma oportunidade de garantir suprimento energético competitivo, com impacto direto na atração de novas indústrias