Avaliação é do vice-presidente da unidade de Agronegócio da consultoria Falconi, Andre Paranhos.
Da Redação

Em meio a um cenário desafiador, entidades representativas do setor agropecuário defendem “cautela e gestão” como palavras de ordem para 2025. A orientação é compartilhada por especialistas em finanças do agronegócio, que apontam o controle de gastos como fator determinante para o crescimento sustentável das atividades no campo.
Responsável por impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre de 2025, com alta de 12,2% em relação ao mesmo período de 2024, segundo dados do IBGE, o agronegócio se mantém como motor da economia nacional. No entanto, ao mesmo tempo em que a demanda global por alimentos aumenta e o Brasil preserva sua posição de liderança, os produtores rurais ainda enfrentam obstáculos estruturais que comprometem a competitividade e o avanço do setor.
Um dos principais entraves é o acesso ao crédito. A taxa Selic, atualmente em 15%, e a burocracia associada às linhas de financiamento dificultam a obtenção de recursos. Além disso, discussões no governo e no Congresso sobre mudanças nos Fundos de Investimentos nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros) têm gerado incertezas, com possíveis impactos negativos tanto para produtores quanto para investidores.
Na avaliação do vice-presidente da unidade de Agronegócio da consultoria Falconi, Andre Paranhos, embora fatores externos escapem ao controle dos produtores, o bom gerenciamento das finanças internas é fundamental para superar os desafios e garantir o equilíbrio da operação.
“Ainda é comum encontrar empresas operando sem um planejamento financeiro estratégico estruturado. Em muitas delas, especialmente nas de perfil familiar, os controles ainda são informais, e as decisões são tomadas mais com base na experiência do que em dados. Isso dificulta o acesso a crédito, compromete a previsibilidade do caixa e limita a capacidade de investir com segurança, podendo resultar, nos casos mais graves, em pedidos de recuperação judicial (RJ)”, explica Paranhos.
O alerta se confirma nos dados da Serasa: em 2024, o número de pedidos de recuperação judicial no setor agropecuário dobrou em relação a 2023, passando de 523 para 1.272.
Como resposta a esse cenário, a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) reforça a necessidade de cautela aliada à gestão. Para Paranhos, isso significa investir em planejamento financeiro com periodicidade, controle rigoroso de fluxo de caixa, análise de margens e avaliação constante da estrutura de custos. Ele também destaca a importância de alinhar a gestão financeira à estratégia de negócio, para identificar investimentos viáveis e mitigar riscos.
“A análise sobre gastos futuros também não pode ficar de fora dessa equação. Por exemplo, mesmo com caixa positivo, nem sempre será necessário investir em novos maquinários, comprar novas propriedades, aumentar equipes ou realizar outras iniciativas estratégicas”, diz o VP da Falconi.
Paranhos ressalta ainda que as tecnologias disponíveis no mercado podem ser grandes aliadas nesse processo. Ferramentas digitais de gestão e plataformas de agricultura de precisão permitem rastrear os custos de produção com mais eficiência, gerar indicadores em tempo real e qualificar as decisões de investimento. Entre os recursos citados estão os ERPs, sistemas de BI (business intelligence) e softwares integrados específicos para o agro.
Ainda assim, o especialista destaca que a transformação depende de um fator decisivo: a mudança de postura do próprio produtor.
“Será cada vez mais necessário que o produtor veja a gestão financeira não como uma etapa cheia de burocracias, mas como um caminho estratégico de geração de valor. Em um cenário onde as margens operacionais são cada vez mais apertadas, além da volatilidade nos mercados, quem tiver domínio sobre seus próprios custos, entender seus indicadores e planejar com inteligência estará sempre um passo à frente.”
“Superar os gargalos externos ao setor é importante, mas, enquanto eles persistem, a gestão interna deve ser a alavanca que move o agro rumo a um novo patamar de competitividade e sustentabilidade”, finaliza Paranhos.