Dados de 2024 mostram predominância de lesões em unidades de abate.
Anderson Viegas

O setor frigorífico, que reúne as atividades de abate de bovinos, suínos e aves, liderou em 2024 o número de afastamentos por acidente de trabalho em Mato Grosso do Sul. Segundo levantamento do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, com base em dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), foram registrados 208 afastamentos (6,16% do total no estado) no segmento de abate de reses, e outros 203 (6,01%) nas atividades de abate de suínos, aves e pequenos animais.
As lesões mais frequentes nesse setor, conforme o relatório, ocorreram nos ombros, com 53 registros, o que representa 18,7% dos casos. Em seguida aparecem fraturas ao nível do punho e da mão (25 casos, 8,83%), sinovite e tenossinovite (19, ou 6,71%), luxações e entorses no joelho (12, 4,24%) e fratura do pé, exceto tornozelo (11, 3,89%).
A análise histórica realizada pelo Observatório com dados entre 2012 e 2024 mostra ainda que a ocupação mais frequentemente relacionada a acidentes no setor frigorífico é a de alimentador de linha de produção, responsável por 32,6% das notificações.
Além da indústria frigorífica, também figuram entre os setores com maior número de afastamentos por acidentes de trabalho no estado, em 2024, os hipermercados e supermercados (166 afastamentos, 4,91%), o transporte rodoviário de carga (153, 4,53%) e a administração pública (119, 3,52%).
Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho alerta para a informalidade
No próximo domingo, 27 de julho, o Brasil celebra o Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho. A data tem como foco, neste ano, um alerta sobre a invisibilidade dos trabalhadores informais, que seguem à margem das garantias legais de proteção à saúde e à segurança no ambiente de trabalho.
De acordo com o superintendente regional do Trabalho em Mato Grosso do Sul, Alexandre Cantero, os riscos enfrentados por esses trabalhadores são ainda mais graves do que os observados no setor formal.
“Muitos trabalhadores ocupados no mercado formal já estão sujeitos a diversos riscos decorrentes da natureza das atividades desenvolvidas e da falta de observância das normas regulamentadoras pelos empregadores. A flexibilização da legislação trabalhista e a ampla possibilidade de terceirização das atividades mostrou-se um dos principais fatores de precarização das relações de trabalho e de aumento de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. Isso vem sendo enfrentado com a responsabilização solidária dos contratantes de empresas prestadoras de serviços a terceiros. A informalidade aumenta exponencialmente a frequência e gravidade desses riscos, eis que tais trabalhadores se encontram, em sua grande maioria, invisibilizados, tornando-se visíveis apenas quando buscam o SUS após os acidentes e para tratamento de doenças decorrentes do trabalho.”
O Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região, por meio do Programa Trabalho Seguro, também tem reforçado a conscientização sobre o direito à saúde e à segurança para todos os trabalhadores, formais ou informais. A campanha de 2025 adota o lema: “Informalidade, saúde e segurança no trabalho é um direito de todos”.
A juíza do trabalho Hella de Fátima Maeda, gestora regional do programa, destaca que a universalização do direito à proteção laboral é uma questão de justiça e dignidade. “Todo trabalho humano merece ser digno, seguro e saudável. Mais do que aplicar normas, é preciso ampliar a consciência coletiva de que cuidar das pessoas que trabalham é cuidar da sociedade. A prevenção começa com o reconhecimento de que nenhuma atividade justifica o risco à vida e que os direitos fundamentais devem alcançar todos os que vivem do próprio esforço, em qualquer condição laboral.”