16/06/2025 12:30

Dia dos namorados: pedagoga opta por relacionamento aberto, mas fala em ‘diálogo e base emocional sólida’

Amor sem rótulos, você toparia? Neste 12 de junho, dia dos namorados, o Made In MS fala daqueles que optam por relacionamentos abertos. A data nos convida à reflexão sobre o amor, mas, também o formato de romances atuais.

Cada vez mais, os modelos tradicionais de casal, que pressupõem exclusividade, dão lugar a formas diversas de amar. Entre elas, o “namoro aberto” tem ganhado espaço e curiosidade, especialmente entre os jovens.

Mas, o que dizem especialistas? Como a confiança e o autoconhecimento impactam no fortalecimento do vínculo? Segundo pesquisa do Ashley Madison – rede social de namoro lançada em 2001 – 62% dos brasileiros da geração Z consideram relacionamentos não-monogâmicos, e o Brasil lidera o ranking mundial dessa preferência entre dez países avaliados.

O que é um relacionamento aberto?

Relacionamento aberto é quando o casal permite vínculos afetivos ou sexuais com outras pessoas, sem que isso seja visto como traição. Mas liberdade não significa ausência de regras. A psicóloga e professora da Estácio, Simone Silveira Cougo, explica que esse é apenas um dos estilos dentro da não-monogamia e que conversar é fundamental.

“É necessário comunicar seus desejos e limites ao parceiro. Compreender os estilos de relacionamentos possíveis e os acordos que podem ser feitos para além da monogamia também é muito importante”, afirma.

Acordos claros, com diálogo e autoconhecimento

A pedagoga Amanda Passos, que vive um relacionamento aberto, reforça a importância do diálogo e da base emocional sólida. Casada e mãe de dois filhos, ela conta que a decisão de abrir o relacionamento não deve partir de uma tentativa de salvar a relação ou apimentar a rotina, pois isso pode gerar insegurança e desconfiança.

“Antes de abrir uma relação, o mais importante que deve se levar em conta é como o casal se encontra atualmente. Como está o vínculo entre eles? A cumplicidade, amizade, a confiança?”, questiona.

Ela ressalta que a abertura deve ser uma decisão justa e conjunta, não uma concessão unilateral. “Se propor a experimentar algo a pedido do parceiro pode gerar outros problemas na relação”, alerta.

Simone explica que não existe fórmula única para o funcionamento do relacionamento aberto. “Cada casal cria regras específicas, como não levar parceiros para dentro de casa, por exemplo. Esses acordos devem ser definidos após muita conversa e autoconhecimento”, diz.

Uma dúvida comum é se o relacionamento aberto pode fortalecer o vínculo amoroso. A psicóloga pondera que isso depende de muitos fatores, entre eles a confiança, a comunicação e o autoconhecimento das pessoas envolvidas.

“Quando as pessoas têm um bom nível de autoconhecimento e habilidades sociais, como expressar necessidades e pedir mudanças de comportamento respeitosamente, a probabilidade de que o vínculo seja fortalecido pode aumentar”, explica.

Ela também chama atenção para as questões de gênero e diversidade sexual. “Homens, independentemente da orientação sexual, são socialmente liberados a se relacionarem com mais parceiras ou parceiros. Já as mulheres muitas vezes cedem à abertura da relação proposta pelo parceiro para não perder o vínculo amoroso”, destaca.

‘Traz uma nova energia’, acredita pedagoga

(Freepik/Reprodução)

Para Amanda, que já experimentou a dinâmica, quando o vínculo está bem estabelecido, o relacionamento aberto traz uma nova energia.

“Se o casal se sente amado e seguro, as novas experiências e vivências, além da oportunidade de conhecer outras pessoas, trazem uma dinâmica interessante, tanto sexual quanto na cumplicidade. O afeto de um não substitui o do outro. O que pode atrapalhar é cair na comparação, pois cada pessoa e cada vínculo são únicos”, ressalta.

Mesmo com mais pessoas adotando e debatendo o relacionamento aberto, o tema ainda enfrenta preconceitos e tabus. Simone aponta que essa resistência está ligada a um pensamento social antigo, que acredita que só existe um amor verdadeiro ao longo da vida. “Isso está enraizado socialmente e se origina de acordos da antiguidade que buscavam garantir a propriedade privada”, explica.

Amanda reforça essa perspectiva, explicando que fomos criados dentro da lógica do “conto de fadas”, em que o amor verdadeiro é aquele que concentra todas as expectativas em uma única pessoa. “Além disso, essa construção histórica cria a ideia de que o outro pertence a mim, como uma posse”, diz. Ela lembra que isso funcionava para garantir que os homens transmitissem seus bens e linhagem por meio de relações monogâmicas fechadas, principalmente nas heterossexuais.

Por isso, os casos de infidelidade masculina são comuns, ainda que socialmente aceitos em alguns círculos. Amanda chama atenção para a naturalidade da atração por outras pessoas, algo que ocorre com todos, dentro ou fora de relacionamentos. “O que difere é o acordo que o casal faz. Em relacionamentos fechados, a pessoa sente a atração, mas não pode agir, o que gera a escolha entre ignorar o desejo, terminar a relação ou trair”, resume.

Tinder aponta que este formato de relacionamento foi o mais procurado em 2024

O crescimento da popularidade do relacionamento aberto também está refletido nas plataformas digitais. Dados do Tinder mostram que, em 2024, esse formato foi o mais procurado pelos brasileiros, indicando maior transparência sobre os objetivos de relacionamento.

No entanto, a psicóloga Simone alerta que, para funcionar, o relacionamento aberto exige muita responsabilidade afetiva e consciência. “Não é um convite à liberdade sem limites. É preciso que cada pessoa conheça seus próprios limites e respeite o do parceiro. O diálogo deve ser constante, e o autoconhecimento é fundamental para identificar o que se sente e o que se deseja”, destaca.

Amanda concorda, lembra que pessoas não são descartáveis e reforça que o relacionamento aberto não é para todos. “Exige maturidade, respeito e empatia. Quando há isso, pode ser uma forma legítima de amor e companheirismo, que não elimina a cumplicidade e o afeto, mas amplia as possibilidades”, conclui.

(Com assessoria)

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