A chamada PY 15, compreende 224,8 quilômetros entre Mariscal Estigarribia e Pozo Hondo, na região do Chaco.
Anderson Viegas, com informações de Toninho Ruiz, em Porto Murtinho

As obras de asfaltamento do último trecho ainda não pavimentado da Rota Bioceânica, a megaestrada que contecta o Brasil ao Chile, passando por Paraguai e Argentina, seguem em ritmo acelerado. A chamada PY 15, compreende 224,8 quilômetros entre Mariscal Estigarribia e Pozo Hondo, na região do Chaco, no Paraguai, e está sendo executada pelo Ministério de Obras Públicas e Comunicações (MOPC) do país.
Conforme o MOPC, esse segmento da Bioceânica no país, chamado de terceiro trecho, teve as obras divididas em quatro lotes, que variam de 52 a 59 quilômetros de extensão, cada um sendo executado por um consórcio ou grupo de empresas, para acelerar o andamento dos trabalhos.
No lote 3 da obra, na área conhecida como Picada 500, a cerca de 120 quilômetros de Marechal Estigarribia, o consórcio responsável pelas obras, CDD Construcciones, já implantou 13 quilômetros de aterro e inicia em breve os trabalhos do pacote estrutural da estrada.
Segundo o MOPC, a construção de uma estrada no Chaco tem uma alta exigência técnica e representa um desafio constante. Com um clima extremo, com períodos de calor intenso que podem chegar a 44 ºC, secas prolongadas e, sazonalmente, chuvas muito intensas, como as registradas neste ano, os solos da região podem permanecer encharcados, se transformando em lamaçais quase intransitáveis, em que só a abertura de sistemas de drenagem podem garantir o mínimo de estabilidade e funcionalidade a estrada.
Para fazer frente a essas características da região, o pavimento deste trecho da Rota Bioceânica é reforçado. Vai ter uma sub-base de solo-cimento, base granular de pedra tritura e duas camada de asfalto. O solo-cimento, uma mistura de solo, cimento e água, por exemplo, assegura maior estabilidade e rigidez a camada inferior do pavimento, além de aumentar sua capacidade de carga. Já as duas camadas de asfalto, possibilitam uma maior resistência estrutural para suportar o peso dos veículos e oferecer maior durabilidade, aumento a vida útil da rodovia. Veja mais no vídeo do MPOC abaixo:
De acordo com o MOPC, dos 224,8 quilômetros em construção, 220 quilômetros são destinados à pavimentação do corredor principal, enquanto o restante será utilizado para melhorias viárias complementares, tais como acessos, travessias urbanas e coletoras.
Além do asfaltamento da rodovia, também estão previstas melhorias viárias nas cidades de Mariscal Estigarribia e Pozo Hondo, como a construção de rotatórias, acessos aos aeroportos, cabines de pedágio e pesagem de veículos.
Em Pozo Hondo, na fronteira com a Argentina, será construído um centro de controle aduaneiro. A execução deste projeto, financiado pelo Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata), tem um investimento de US$ 353 milhões.
A Bioceânica no Paraguai
Conforme o MOPC, no país, a extensão da Rota Bioceânica foi dividida em três trechos para a pavimentação. O primeiro, de Carmelo Peralta a Loma Plata, tem 277 quilômetros e já está concluído. O investimento na iniciativa foi de US$ 443 milhões.

Em Carmelo Peralta está sendo construída a Ponte da Bioceânica, que liga o país ao Brasil, por Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul.
O segundo trecho da rota no Paraguai vai de Cruce Centinela a Mariscal Estigarribia. Tem uma extensão de 102 quilômetros e um investimento previsto de US$ 110 milhões.
Segundo o ministério, sua pavimentação deve ocorrer após o trecho 3, já que existe outra rodovia na região, a PY09, que foi remodelada e pode funcionar como alternativa para o trecho.
A ponte
A Ponte da Bioceânica está sendo construída por um consórcio binacional, com um investimento de R$ 575,5 milhões da administração paraguaia de Itaipu. A estrutura tem uma extensão de 1.294 metros, dividida em três trechos: dois formarão os viadutos de acesso em ambos os lados e um corresponderá à parte estaiada, com 632 metros sobre o rio Paraguai, incluindo um vão central de 350 metros. Os pilares, elementos centrais da ponte estaiada, alcançarão 130 metros de altura.

A obra incorpora inovações em segurança e acessibilidade, incluindo faixas de rodagem de 3,60 metros, acostamentos de 3 metros, ciclovia e calçada para pedestres. Um elemento distintivo será o sistema de mastros, projetado como portais simbólicos entre os dois países.
A ordem de serviço para a ponte foi emitida em 13 de dezembro de 2021 e a construção já está com mais de 70% das obras concluídas. A previsão do término é o segundo semestre de 2026.
Para o deputado estadual Paulo Corrêa (PSDB), engenheiro e 1º secretário da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, a obra representa um divisor de águas no desenvolvimento do Estado e uma virada de chave na logística do agronegócio e do comércio exterior brasileiro.
“Estamos acompanhando de perto esse avanço extraordinário. A ponte da Rota Bioceânica não é apenas uma conexão física entre Brasil e Paraguai — ela é uma ponte para o futuro do nosso Estado, que vai se tornar o principal corredor de exportação para o mercado asiático”.
No lado brasileiro da fronteira, avança também a construção do acesso que ligará a BR-267 à ponte. Essa obra está orçada em R$ 427 milhões e vem sendo executada pelo Consórcio PDC Fronteira, com recursos do governo brasileiro, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Além da alça de 13,1 quilômetros que ligará a rodovia à ponte, também está sendo construído o contorno rodoviário em Porto Murtinho e o centro aduaneiro, que fará o controle do acesso entre o Brasil e o Paraguai.
A obra foi iniciada em 20 de setembro de 2024, e o prazo de conclusão é de 26 meses. O consórcio responsável já está realizando a limpeza na área de abrangência do acesso e o isolamento de toda a extensão do trecho.
Vantagem
A megaestrada, segundo estudos da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), pode encurtar em mais de 9,7 mil quilômetros a rota marítima das exportações brasileiras para a Ásia, via portos chilenos de Iquique, Antofagasta e Mejillones. Em uma viagem para a China, por exemplo, pode reduzir o tempo em 23%, cerca de 12 dias a menos.

Esse ganho logístico representa incremento de competitividade para os produtos sul-mato-grossenses e brasileiros. Além disso, a rota possibilita o incremento da comercialização entre os quatro países por onde passa: Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, além de promover a integração cultural e o turismo.
“A magnitude desse projeto vai muito além da engenharia: ela representa independência logística, integração sul-americana e uma nova era de prosperidade para Mato Grosso do Sul e para o Brasil”, finaliza Paulo Corrêa.