08/07/2025 06:55

Condições das lavouras nos EUA acendem alerta no Brasil

Começa o chamado Weather Market, em que o clima passa a ser determinando para a formação de preços das commodities agrícolas.

Da Redação

Plantio de milho em Porter County, Indiana (Foto Arquivo: Jacob Tosch/USDA).

As lavouras de soja e milho nos Estados Unidos entraram oficialmente no radar do mercado internacional. Com o avanço do plantio e os primeiros dados sobre a qualidade das lavouras, começa o chamado Weather Market, período em que o clima passa a ser determinante para a formação dos preços das commodities agrícolas. No Brasil e em Mato Grosso do Sul, um dos principais produtores nacionais de grãos, os impactos dessa fase já são monitorados de perto — e podem influenciar desde a balança comercial até o preço da carne no supermercado.

De acordo com os últimos relatórios do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), o plantio do milho atingiu 93% da área prevista, dentro da média dos últimos cinco anos. A soja está um pouco à frente da média histórica, com 84% da área plantada, contra 80% nos anos anteriores. Apesar do bom ritmo, a preocupação está na qualidade: 69% das lavouras de milho e 67% das de soja estão em condições “boas” ou “excelentes”, índices inferiores aos do mesmo período do ano passado, quando o milho, por exemplo, apresentava 75% nessa faixa.

“Apesar desses números parecerem positivos, eles representam uma piora em relação ao mesmo período do ano passado — quando o milho, por exemplo, apresentava 75% em condições boas ou excelentes. Esse cenário marca o início do chamado Weather Market, momento do calendário agrícola americano em que o clima passa a ter peso decisivo na formação de preços no mercado internacional, dada a sensibilidade da produtividade às chuvas e temperaturas entre junho e agosto”, explica Fernando Oliveira, Gestor de Inteligência de Mercado e Negócios da Flowinvest.

Nos próximos 75 dias, o fator decisivo será a regularidade das chuvas. Se o clima colaborar, os Estados Unidos — maior exportador de milho e segundo maior de soja do mundo — podem ter uma safra cheia, o que tende a derrubar os preços internacionais. Mas se houver estiagens ou ondas de calor fora de época, o cenário se inverte: uma quebra na produção americana pode elevar fortemente as cotações globais.

E o Brasil, como grande produtor e consumidor, sente essa oscilação na pele.

“Como país produtor e exportador, o Brasil pode ser beneficiado em um cenário de quebra de safra americana, ganhando competitividade no mercado global. No entanto, o país também é grande consumidor interno de milho e soja para ração animal, produção de etanol e indústria alimentícia. Assim, uma disparada nos preços internacionais pode pressionar os custos de produção domésticos, impactando desde a cadeia de proteína animal até os preços ao consumidor final”, afirma Fernando Oliveira.

Se os preços subirem lá fora, os embarques brasileiros tendem a crescer, aumentando a receita com exportações. Por outro lado, os custos internos também sobem. O milho e a soja são pilares da ração animal, e qualquer aumento no preço dessas commodities reflete diretamente na produção de carnes, ovos e leite, pressionando o índice de inflação dos alimentos.

Além disso, setores industriais que utilizam derivados como óleo e farelo de soja, ou que produzem etanol de milho, também enfrentam encarecimento de matéria-prima. Para produtores de aves, suínos e gado de corte, o impacto é imediato na planilha de custos.

Diante dessa volatilidade, a orientação é clara: monitoramento constante.

“O Brasil, como player relevante no mercado global de grãos, deve manter atenção redobrada às previsões climáticas dos EUA. A volatilidade dos preços pode representar tanto riscos como oportunidades, e decisões estratégicas — seja na comercialização antecipada, na gestão de estoques ou na formulação de contratos futuros — devem levar esse fator climático em consideração”, alerta Fernando Oliveira.

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