
Símbolo da tranquilidade e do jeito pacato de Campo Grande, as capivaras se tornaram estrelas dos parques urbanos e áreas verdes da Capital. Aparecem nas fotos dos turistas, inspiram memes e encantam moradores que caminham à beira dos lagos ao entardecer. Mas, por trás da fama de mascotes da cidade, há um alerta: a convivência próxima com esses animais exige cuidados.
A professora Patrícia Pacheco, professora do curso de Medicina Veterinária da Estácio, explica que a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) é o maior roedor do mundo e um animal semiaquático, dependente da água para sobreviver. “Passam boa parte do dia submersas, principalmente para se refrescar e regular a temperatura do corpo, e saem ao amanhecer e no fim da tarde para se alimentar”, detalha.
Esses hábitos explicam a presença em locais como o Parque das Nações Indígenas, com lagos e áreas úmidas ideais. Vivem em grupos de 10 a 20 indivíduos e mantêm uma estrutura social cooperativa, com cuidado coletivo dos filhotes, o que aumenta a sobrevivência dos jovens.
Herbívoras, alimentam-se de gramíneas e plantas aquáticas. Para aproveitar melhor os nutrientes, praticam a cecotrofia, ingerindo fezes macias para redigerir o alimento e absorver vitaminas como a vitamina C, que não produzem naturalmente. Comunicativas, emitem sons variados — grunhidos, assobios e estalos — e marcam território por odores. Apesar da proximidade com humanos, continuam sendo animais silvestres, e o contato direto pode causar estresse e alterar seu comportamento natural.
Riscos invisíveis: o carrapato-estrela e a febre maculosa
O principal alerta é a febre maculosa brasileira, doença transmitida pelo carrapato-estrela (Amblyomma sculptum). As capivaras não transmitem a doença diretamente, mas são hospedeiras amplificadoras, que permitem ao carrapato completar seu ciclo.
“Elas têm alta tolerância ao parasita e à bactéria Rickettsia rickettsii”, explica Patrícia. “Em locais com muitas capivaras, o número de carrapatos aumenta, elevando o risco para pessoas e animais domésticos.”
O perigo está no contato indireto. O carrapato passa 95% do tempo no ambiente, esperando por um hospedeiro. Ao caminhar na grama alta ou sentar na vegetação, a pessoa pode ser picada sem perceber.
A veterinária alerta que, apesar disso, é possível aproveitar os parques com segurança. As orientações são:
- Evite contato direto com as capivaras e nunca as alimente.
- Use roupas adequadas, como calças e camisas de manga longa, de cores claras.
- Permaneça nas trilhas e calçadas, longe da vegetação rasteira.
- Aplique repelente com Icaridina ou DEET.
- Revise o corpo e os pets ao voltar para casa, observando axilas, virilha e couro cabeludo.
A inspeção corporal imediata é essencial, já que a transmissão só ocorre após o carrapato ficar fixado por várias horas. Caso seja encontrado, deve ser removido com pinça fina, sem torcer o corpo do inseto. Nos dias seguintes, fique atento a febre alta, dor de cabeça e mal-estar — sinais de alerta que exigem atendimento médico.
Manejo e equilíbrio ambiental
Eliminar as capivaras não é solução. Patrícia lembra que o caminho é o Manejo Integrado de Carrapatos, com ações de prevenção e educação. Isso inclui manter a grama baixa, instalar portais de tratamento com acaricidas, controlar a reprodução das fêmeas e promover campanhas de conscientização.
Essas medidas, somadas ao monitoramento da fauna, permitem um convívio mais seguro entre pessoas e animais. Com manejo adequado e respeito aos limites da natureza, as capivaras seguem como um dos símbolos mais queridos de Campo Grande, lembrando que a harmonia com o ambiente começa com responsabilidade.





