Projeto coordenado pela Embrapa e financiado pelo BID estrutura rotas de turismo de base comunitária em Alagoas, Pernambuco e Sergipe.
Da Redação

Um projeto de pesquisa agroalimentar liderado pela Embrapa Alimentos e Territórios (AL) e financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) está transformando comunidades do Semiárido nordestino. A iniciativa Paisagens Alimentares estruturou seis rotas de turismo sustentável de base comunitária, com estimativa de geração de até R$ 1,5 milhão por ano, além de fortalecer a autonomia de mulheres e jovens.
O projeto envolveu diretamente mais de 500 pessoas e alcançou mais de cinco mil indiretamente, integrando agricultores familiares, marisqueiras, quilombolas, catadoras de mangaba, pescadores e artesãos. A proposta valoriza alimentos como elementos centrais da identidade cultural, capazes de conectar biodiversidade, produção, história e práticas cotidianas.
Segundo o analista de inovação da Embrapa e coordenador da iniciativa, Aluísio Goulart, o modelo evidencia que a agricultura é multifuncional. “Além de produzir alimentos, ela constrói vínculos sociais, preserva a natureza e resguarda o patrimônio cultural de comunidades guardiãs da sociobiodiversidade”, afirma.Mulheres e jovens em protagonismoEm todos os territórios, mulheres rurais lideraram ações, organizaram vivências e fortaleceram associações.
Em Pernambuco, a Associação das Marisqueiras de Sirinhaém criou a Trilha das Marisqueiras, experiência imersiva nos manguezais que inclui técnicas sustentáveis de coleta e degustação de pratos típicos. A iniciativa rendeu ao município reconhecimento internacional com o 3º lugar no Green Destinations Stories Awards 2025, na categoria “Comunidades Prósperas”.
Jovens também foram mobilizados como guias, comunicadores e multiplicadores das tradições locais, incentivando a permanência no campo e o fortalecimento da autoestima comunitária.
A projeção é que, em um cenário moderado de 100 visitantes por mês em cada território, com gasto médio de R$ 200, a renda anual alcance R$ 240 mil por território, somando R$ 1,44 milhão ao ano nos seis municípios. Com maior divulgação e estruturação, os números podem ser ampliados, consolidando o turismo de base comunitária como alternativa de desenvolvimento sustentável.
A metodologia aplicada utilizou escuta ativa, oficinas, intercâmbios e planejamento coletivo. Como resultado, foi criada a Rede Territórios Saberes e Sabores, que permite continuidade das ações após o encerramento do projeto, reforçando a autonomia comunitária.
A especialista ambiental sênior do BID, Denise Levy, destaca que a experiência comprova o potencial do turismo comunitário e gastronômico como estratégia de diversificação da economia rural com ética, participação social e responsabilidade ambiental.Alinhado a políticas públicas e estratégias da Embrapa, o modelo tem potencial de replicação em outras regiões do Brasil e da América Latina, fortalecendo a inclusão socioprodutiva a partir da cultura alimentar.