Especialista diz que centro da cidade ficou mais bonito com revitalização, mas que isso não agregou para atrair mais público
Da Redação

O Made In MS, recentemente, divulgou o fechamento de uma grande loja de utilidades, no Centro de Campo Grande, acompanhando também o movimento e a reclamação dos lojistas vizinhos. Entre os motivos está o abandono e falta de investimentos na região, revitalização que “não ajudou em nada”, presença de muitos moradores em situação de rua e, claro, aluguéis absurdos. Pensando nisso, buscamos um especialista no ramo imobiliário para responder o seguinte questionamento: “O que justifica um aluguel tão caro?”
Com 30 anos de experiência e sócio-proprietário de uma imobiliária renomada na cidade, o especialista fez algumas considerações. “A prefeitura deixou mais bonito o Centro, mas não agregou em nada no sentido de atrair mais públicos. Na minha opinião, seria melhor ter feito calçadão. No caso do aluguel, a região tem proprietários que se iludem em relação aos preços. Hoje, a realidade é outra e é totalmente impossível pagar o preço que pedem, em função dos possíveis lucros com a atividade”, iniciou.
‘Se não alugar, deixa fechado’, dizem muitos donos de imóveis
Além disso, o empresário ressalta que muitos produtos que são ofertados no Centro também estão nos shoppings e a concorrência com os sites de vendas é injusta. Outro ponto é que a maioria dos proprietários não precisam com urgência dos valores e, sendo assim, falam na imobiliária: “Se não alugar, deixa fechado”.
Ainda dialogando de forma obsoleta, o dono da imobiliária diz que muitos proprietários de imóveis ainda acham ou exigem que o aluguel precisa ser calculado valendo 1% do valor do imóvel. “E isto é algo que eles acham que vale e justamente por isso tem imóvel fechado há anos, com preços absurdos e nem propostas tem quem faça. Aliás, algumas pessoas pensam que é a imobiliária que coloca os preços, mas não, justamente o contrário: nossa função é alugar o mais rápido possível”, comentou.
Percorrendo a região central, nas principais ruas, como a 14 de julho, 13 de maio, Rui Barbosa, Dom Aquino e Barão do Rio Branco, por exemplo, o especialista diz que, em muitos salões, o valor de aluguel pedido é mais que o dobro. “Pedem R$ 40 mil mensais em um lugar que vale, no máximo, R$ 18 mil”, argumentou.
Por fim, o especialista ainda faz uma ressalva. “E lembrando que Campo Grande é a única cidade em que a alíquota de IPTU [Imposto Predial e Territorial Urbano] começa em 1% do valor. Em outras, começa em 0,5%. Somados os valores das despesas, IPTU , ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] antecipado, luz, água e demais despesas é, sem dúvida, um dos lugares mais caros”, encerrou.
Raio-X
A Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Campo Grande divulgou em junho deste ano um levantamento que aponta a situação do centro da capital. O estudo cita números de retração e sugere medidas para enfrentar o cenário.
Nos últimos 30 anos, o centro de Campo Grande tem passado por um processo de retração econômica e social. O levantamento da CDL Campo Grande analisou o quadrilátero central formado pelas ruas Rui Barbosa, Calógeras, 26 de Agosto e avenida Mato Grosso.
Mesmo com investimentos em requalificação urbana, como os R$ 60 milhões aplicados no programa Reviva Centro, os indicadores apontam para um aumento da crise. Entre 2018 e 2025, o número de empresas ativas nessa região reduziu de 3.439 para 826, uma queda de 75,9%.
Indicadores de Retração (2018–2025):
Empresas em funcionamento:
- Comércio: 1.971 para 394 (queda de 84,7%)
- Serviços: 1.439 para 432 (queda de 69,9%)
- Indústria: 2 para 0 (encerramento total)
- Ticket médio por compra: Reduziu de R162,00(2018)paraR 48,00 (junho/2025), uma queda de 70,4% no gasto médio por consumidor.
- Vagas de estacionamento perdidas: Mais de 800.
Fatores que Contribuíram para a Redução:
O declínio é atribuído a fatores como:
- Encerramento das atividades da estação ferroviária.
- Fechamento da antiga rodoviária.
- Lei da Cidade Limpa, que alterou fachadas comerciais da Rua 14 de Julho.
- Obras prolongadas do Reviva Centro, com impactos na mobilidade e no comércio.
- Redução de vagas para estacionamento.
- Transporte coletivo com baixa cobertura.
- Crescimento do e-commerce, respondendo por 16% do consumo nacional.
- Digitalização bancária, com fechamento de agências.
- Mudança no comportamento do consumidor, buscando praticidade e proximidade.
- Aumento do conceito das “cidades de 15 minutos”, reforçado pela pandemia e home office.
Impactos Observados:
Menor fluxo de consumidores.
- Aumento da sensação de insegurança.
- Deficiências na limpeza e manutenção urbana.
- Aluguéis elevados em imóveis antigos.
- Estacionamentos particulares com tarifas altas.
- Crescimento da população em situação de rua e de usuários de drogas.
- Redução na arrecadação e nos postos de trabalho.
Propostas para Reativação
A CDL sugere medidas em infraestrutura, incentivos e valorização cultural:
- Infraestrutura e Serviços: Limpeza urbana, manutenção paisagística, reforço da segurança pública, atendimento à população vulnerável.
- Incentivos e Regulação: Desoneração para novas moradias e estabelecimentos comerciais, apoio a estacionamentos privados, relicitação do sistema rotativo, aumento do IPTU para imóveis comerciais desocupados há mais de seis meses, requalificação profissional.
- Valorização Cultural e Institucional: Transferência de secretarias municipais para o centro, criação de programação cultural permanente nos fins de semana, realização de eventos gastronômicos, feiras e atividades ao ar livre.