17/08/2025 00:04

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Tendência de risco: especialistas alertam sobre riscos do uso de chupeta por adultos e jovens

As redes sociais vêm impulsionando uma moda curiosa: jovens e adultos usando chupetas como suposto recurso para aliviar ansiedade, insegurança ou estresse. Embora possa parecer apenas uma brincadeira inofensiva, especialistas alertam que o hábito pode trazer impactos relevantes para a fala, a saúde bucal e o desenvolvimento de estratégias mais eficazes para lidar com emoções.

Questões emocionais e maturidade psicológica

Para Thiago Ayala, psicólogo especialista em Saúde e Terapia Cognitivo-Comportamental no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS), recorrer à chupeta na vida adulta não é funcional. Ele lembra que o objeto foi criado para atender necessidades específicas da infância, oferecendo conforto em uma fase na qual o bebê ainda não tem recursos próprios para lidar com frustrações.

“Existem inúmeras estratégias eficazes para regular ansiedade e tensão — como exercícios de respiração, técnicas de mindfulness e a psicoterapia — que, diferentemente da chupeta, contribuem para o desenvolvimento emocional”, destaca.

Thiago considera o hábito um “comportamento de escape”, capaz de gerar alívio momentâneo, mas que impede o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento mais maduras. “Ao recorrer a um recurso como esse, a pessoa mascara o desconforto em vez de enfrentá-lo, e isso reforça a dependência de objetos externos para regular emoções”, explica. Isso compromete a construção de autonomia e a capacidade de tolerar frustrações, habilidades essenciais para lidar com os desafios da vida adulta.

Ele acrescenta que, em alguns casos, o uso de objetos infantis na vida adulta pode refletir dificuldades de amadurecimento emocional. “Recorrer a uma chupeta pode indicar evitação de responsabilidades, mesmo que não seja consciente”, alerta. O principal sinal de preocupação, segundo o psicólogo, é quando o hábito deixa de ser pontual e passa a interferir na vida social, acadêmica ou profissional, evidenciando dificuldades para lidar com pressões e frustrações de forma saudável.

Impactos na fala e na musculatura orofacial

Segundo a fonoaudióloga Martha Lira, do Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (HU-UFPI), o uso de chupeta por adultos se enquadra como “hábito oral deletério” — qualquer costume repetitivo na região da boca que possa prejudicar a saúde e o equilíbrio muscular. Ela explica que, a depender da frequência, intensidade e duração, o uso da chupeta pode levar à diminuição da força muscular e à adaptação da arcada dentária. “Os dentes superiores tendem a se projetar para frente, o que chamamos de overjet, e os inferiores a recuar, comprometendo o alinhamento e a harmonia do sistema motor facial”, afirma.

Essas mudanças influenciam diretamente a fala. Fonemas que dependem de lábios, bochechas e língua podem sofrer distorções, e a projeção vocal também fica prejudicada. Isso acontece porque a musculatura fraca não consegue oferecer resistência adequada à passagem do ar pela cavidade oral. “A médio prazo, há uma desarmonia no sistema motor facial e alterações perceptíveis na clareza da fala”, pontua Martha.

Ela destaca ainda que hábitos orais deletérios não se restringem à sucção. “Em adultos e jovens é muito mais comum a mordedura — roer unhas, morder lápis ou canetas — do que o uso de chupeta. Mas todos têm algo em comum: funcionam como um recurso de autorregulação emocional”, explica. O neurotransmissor GABA atua como um freio, contrabalançando estados de excitação e ajudando a acalmar. “É uma forma de suprimir sintomas de ansiedade ou agitação, mas que não resolve a causa do problema”, completa.

Riscos para a saúde bucal e articular

O cirurgião bucomaxilofacial Gilberto Sousa, coordenador do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), reforça que o uso prolongado da chupeta na vida adulta também apresenta riscos à saúde bucal. “Embora a musculatura e os ossos já estejam formados, o impacto funcional e articular ainda pode ser relevante, especialmente se o hábito for diário e prolongado”, observa.

Gilberto explica que o uso contínuo pode provocar alterações no encaixe entre os dentes superiores e inferiores. Entre elas, estão a mordida aberta anterior, quando há um espaço entre os dentes da frente mesmo com a boca fechada; a mordida cruzada posterior, que ocorre quando os dentes superiores ficam posicionados para dentro em relação aos inferiores; e a protrusão dos incisivos, caracterizada pelo avanço exagerado dos dentes da frente. Essas alterações prejudicam a estética e funções como mastigação, respiração e fala.

Outro ponto de atenção é a articulação temporomandibular (ATM), responsável por movimentar a mandíbula. O hábito pode modificar o posicionamento, favorecendo o surgimento de ruídos, inflamações e dor. “O uso frequente da chupeta pode ser um fator predisponente para distúrbios temporomandibulares, principalmente em pacientes predispostos ou que já têm histórico de bruxismo”, explica. Ele ressalta que, nesses casos, o risco é ainda maior, pois o esforço adicional pode agravar a sobrecarga na musculatura e articulação.

Apesar do tom leve que o tema possa sugerir, os três especialistas concordam: hábitos curiosos e modas passageiras devem ser analisados com cautela. O que começa como adereço para aliviar o estresse pode, a longo prazo, trazer consequências bem menos inofensivas do que parece.

*Com assessoria

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