07/09/2025 00:04

07/09/2025 00:04

Estudo investiga como dengue e a chikungunya afetam diferentes populações em contextos vulneráveis no Brasil

Um novo estudo da Fiocruz, publicado na revista The Lancet Regional Health Americas, investiga a dengue e a chikungunya e como elas afetam diferentes populações em contextos vulneráveis no Brasil.

O resultado mostra que negros e indígenas têm maior número de anos de vida perdidos nas duas doenças, quando comparados com pessoas brancas.

Enquanto negros são os que mais perdem anos de vida pela chikungunya, os indígenas são os que mais perdem anos de vida pela dengue. Em ambos os casos, os dois grupos morrem em média 22 anos antes do esperado. Se comparado a pessoas brancas, esse número não passa de 13 anos.

Ao prestar atenção em quem são os mais afetados neste ciclo persistente de desigualdades, as comunidades que convivem com barreiras de gênero, raça e classe sofrem maior impacto negativo.

“A motivação do estudo nasce à medida em que enxergamos que há desigualdades no Brasil e, a partir desta constatação, medimos o quanto isso reflete na vida das pessoas que adoeceram por dengue ou chikungunya”, explica o pesquisador associado ao Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) e líder do estudo, Thiago Cerqueira-Silva.

O artigo utiliza dados de casos notificados das duas doenças no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), totalizando mais de 13 milhões de casos de dengue e outros 1 milhão de chikungunya.

A análise foi feita levando em conta a hospitalização e a mortalidade, tendo em vista os fatores de risco como idade, sexo e comorbidades. O artigo também mediu os anos de vida perdidos de pessoas com essas doenças, revelando um impacto desigual da dengue e chikungunya por região geográfica e raça.

Para Cerqueira-Silva os resultados demonstram que há um problema estrutural em relação a esses grupos que os torna mais vulneráveis a complicações causadas por estas doenças.

“Esta escolha de quantificar os anos de vida perdidos em grupos distintos é um diferencial da abordagem do nosso estudo no que diz respeito à investigação das duas doenças, essa é a estratégia que utilizamos para descrever o impacto da desigualdade no Brasil”, comenta o líder do estudo inédito.

Os anos de vida perdidos podem ser interpretados como quantos anos as pessoas poderiam ter vivido em média caso não tivessem morrido de forma precoce por estas doenças.  

Risco aumentado por regiões 

Ao olhar para diferentes regiões, foi possível perceber que os jovens do Norte e do Nordeste concentraram mais anos de vida perdidos tanto por dengue quanto por chikungunya, se comparados aos do Sul e Sudeste. Informação que é necessária ao expor os grupos que mais sofrem as consequências destas doenças.

Considerando outras características das populações, a idade é o fator de pré-disposição para as duas doenças, com as crianças menores de 1 ano e os idosos apresentando maiores riscos de adoecimento. Pessoas com histórico de doenças, a exemplo da diabetes ou hipertensão, também estão sob maior risco de perda de tempo de vida.

As recomendações do estudo incentivam políticas públicas de saúde que combatam desigualdades estruturais presentes no Brasil.

Mais do que isso, os pesquisadores ressaltam que é importante o monitoramento das ações de saúde pública pelo governo de forma estratificada por região, etnias e raças, pois “é necessário ir além de médias nacionais ao avaliar o resultado de políticas públicas.

Uma política pode parecer um sucesso na média nacional, mas pode estar falhando em cuidar de grupos específicos”, conclui Cerqueira-Silva. O Plano de Ação para Redução da Dengue e outras Arboviroses é um esforço levado em consideração no combate às doenças transmitidas por mosquitos.

As limitações do estudo vão de encontro com a impossibilidade de investigar os agentes determinantes da desigualdade, seja por piores condições de vida, seja por menor acesso a bens e serviços de saúde, dentre outras questões que mobilizam maior atenção em torno do tema.

Participaram do estudo as instituições parceiras London School of Hygiene and Tropical Medicine (LSHTM) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Compartilhe:

Útimas notícias

plugins premium WordPress