Pesquisa de doutorado defendida no PPGAgronegócios da UFGD aponta que modelo se mostra mais equilibrado entre retorno econômico e sustentabilidade ambiental.
Anderson Viegas

A utilização do Manejo Integrado nas lavouras de soja é apontada como a melhor opção para o produtor garantir alta produtividade, reduzir custos e ao mesmo tempo preservar o meio ambiente, por meio da diminuição do uso de defensivos químicosagrícolas. Esse é um dos principais resultados da tese de doutorado da professora Denise Wochner, defendida e aprovada nesta sexta-feira (3), no Programa de Pós-graduação em Agronegócios da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
A pesquisa, intitulada “Custo-Benefício do Controle Biológico On-Farmpara o manejo das principais pragas e doenças na cultura de soja”, teve orientação da professora Madalena Maria Schlindwein e coorientação do professor Rui Manuel de Souza Fragosoda Universidade de Évora – Portugal. O estudo avaliou três sistemas de manejo: o Convencional, com uso exclusivo de defensivosquímicos; o Integrado, que combina boas práticas agrícolas, controle biológico e uso racional de químicos; e o Biológico On-Farm, utilizando somente fungos e bactérias entomopatogênicospara o controle de pragas e doenças.

Nos manejos Integrado e Biológico foram utilizados microrganismos como Bacillus thuringiensis, Chromobacteriumsubtsugae, fungos entomopatogênicos (Metarhiziumanisopliae e Beauveria bassiana), além de bactérias promotoras de crescimento, como Bacillus subtilis e Bacillus pumilus, e a solução microbiana Compost Tea. Esses agentes auxiliam tanto no combate a pragas, como lagartas e percevejos, quanto na promoção do crescimento vegetal e equilíbrio do solo.
Denise explicou que, ao revisar pesquisas anteriores, identificou uma lacuna sobre análises completas que envolvessem tanto os aspectos econômicos quanto os ambientais. Para realizar o experimento de campo, contou com a parceria do produtor Antonio Reinaldo Schneid, que cedeu uma área de 1 hectare, além dos insumos necessários, e da equipe técnica de agrônomosda Ascaa Assistência Agronômica S/S. O estudo foi conduzido ao longo de três safras consecutivas (2022/2023, 2023/2024 e 2024/2025), em três cultivares de soja, sendo duas transgênicas (Fibra e Nexus) e uma convencional (BRS511).
Os resultados econômicos apontaram que o Manejo Integrado obteve a melhor média de receita, com 62 sacas por hectare, contra 61,33 do químico e 54,67 do biológico, um desempenho 1,1% superior ao químico e 13,4% maior que o biológico. Nas despesas, o destaque foi o biológico, com custo de 1,22 sacas por hectare, ante 2,59 do integrado e 4,94 do químico. Assim, o biológico teve custos 75% menores que o químico e 53% menores que o integrado. Já o integrado gastou 47,6% menos que o químico, mas 112,3% mais que o biológico.

No saldo entre receita e despesa, o manejo integrado liderou com 59,41 sacas por hectare, contra 56,39 do químico e 53,45 do biológico. Isso representa um saldo 5,35% maior em relação ao químico e 11,15% acima do biológico. Para Denise, os resultados reforçam que o Manejo Integrado é o modelo mais equilibrado em retorno econômico e redução de riscos. “Já imaginava que os altos custos dos agrotóxicos impactariam negativamente nos resultados do Manejo Convencional. O Manejo Integrado trouxe segurança de altas produtividades e redução de custos, pois reduz a aplicação de agrotóxicos e, o Manejo Biológico On-Farm oferece baixos custos de manejo, porém com desafios em manter a produtividade”, afirmou.
No aspecto ambiental, o Manejo Biológico se destacou em cinco das sete categorias analisadas: aquecimento global, acidificação terrestre, eutrofização de água doce, ecotoxicidade de água doce e escassez de recursos fósseis. O desempenho foi mais expressivo na eutrofização de água doce, com impacto até 90% menor. O Convencional apresentou melhores resultados em ecotoxicidade terrestre e consumo de água. O Integrado, embora não tenha liderado em nenhuma categoria, apresentou valores intermediários na maior parte dos indicadores.
A pesquisadora revelou que pretende dar continuidade ao tema em estudos de pós-doutorado. “Gostaria de realizar experimentos em áreas maiores, em diferentes tipos de solo e condições climáticas, além de incluir análises sociais. Pretendo continuar na docência e em pesquisas de campo voltadas à sustentabilidade em monoculturas”, disse.