Capital sul-mato-grossense tem 91,4% das vias arborizadas, supera média nacional e recebe selo internacional há seis anos, mas especialistas alertam para importância do planejamento urbano para garantir equidade.
Da Redação

Campo Grande mantém a liderança entre as capitais mais arborizadas do Brasil, com 91,4% das vias urbanas contando com pelo menos uma árvore, segundo dados do Censo 2022. O índice, que considera apenas as áreas públicas, desconsiderando árvores em quintais privados, é resultado de políticas públicas contínuas e rendeu à cidade o título de “Cidade Árvore do Mundo” pela sexta vez consecutiva, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e pela Fundação Arbor Day.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Campo Grande apresenta ainda 73,66 m² de área verde por habitante, quase cinco vezes mais que os 15 m² por pessoa recomendados pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU). A marca é reforçada por levantamentos como a pesquisa “Floresta Urbana de Campo Grande”, realizada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), que aponta mais de 10 mil hectares de áreas verdes privadas, com destaque para bairros como o Bandeira, que possui a maior cobertura vegetal da cidade.

A proximidade do Dia da Árvore, comemorado em 21 de setembro, evidencia os ganhos ambientais conquistados e impulsiona reflexões sobre o papel das árvores na qualidade de vida urbana. Segundo especialistas, os dados expressivos não devem esconder os desafios ainda presentes.
Para a professora Lusianne Azamor, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Estácio, o reconhecimento internacional é consequência de um esforço coletivo entre poder público e comunidade. Ela explica que a arborização urbana é um dos pilares mais relevantes para o enfrentamento das mudanças climáticas nas cidades. “As árvores ajudam a reduzir o calor excessivo, funcionam como barreiras naturais, diminuem a poluição e criam ilhas de frescor em áreas asfaltadas e densamente construídas”, afirma.
A professora destaca que o planejamento urbano sustentável, com base em conceitos como o de cidade compacta, é fundamental para preservar áreas verdes já existentes e evitar a ocupação desordenada. “É importante fortalecer diretrizes do Plano Diretor que priorizem a ocupação de vazios urbanos antes de expandir a mancha urbana”, explica. Ela também chama a atenção para a necessidade de interligar áreas verdes, garantindo que todos os bairros tenham acesso equitativo a espaços arborizados.
Outro ponto mencionado por Lusianne é a compatibilização da arborização com a infraestrutura urbana. “É preciso equilibrar o crescimento das árvores com elementos como a iluminação pública e a segurança nas vias. Árvores mal posicionadas podem comprometer a visibilidade e exigir podas constantes”, destaca.
Apesar dos números elevados, nem todas as regiões da capital experimentam igualmente os benefícios das áreas verdes. Especialistas alertam para a importância de manter a arborização como política pública contínua e descentralizada. “Precisamos garantir que a arborização não se concentre apenas em bairros centrais ou de alto padrão. É um direito urbano básico, relacionado à saúde, ao lazer e ao bem-estar social”, ressalta Lusianne.
Com a chegada da primavera e a celebração do Dia da Árvore, Campo Grande reforça seu compromisso com o verde e se consolida como modelo para outras cidades brasileiras. No entanto, como apontam os especialistas, manter a liderança exige mais do que plantar árvores: é preciso planejar, cuidar e democratizar o acesso à natureza em todos os cantos da cidade.
Legenda: Arborização urbana contribui para o conforto térmico, a saúde e a qualidade de vida da população campo-grandense, mas precisa ser planejada de forma igualitária em todas as regiões da cidade.(Foto: Prefeitura de Campo Grande/Divulgação).