Projeto está sendo desenvolvido pelo Sebrae/MS em parceria com o governo do estado (Setesc, Sec e Fundtur) e prefeitura de Nioaque.
Anderson Viegas e Pedro Viegas

Mato Grosso do Sul é um polo mundial de turismo. Várias modalidades, combinando natureza, aventura, cultura, história, negócios, compras, ciência e gastronomia, são exploradas, tendo o ecoturismo como carro-chefe por conta de Bonito e do Pantanal. Entretanto, uma vertente com imenso potencial, capaz de gerar desenvolvimento sustentável, valorização cultural e fortalecimento dos povos tradicionais, o turismo indígena ou etnoturismo, permanecia quase adormecida, apesar de o estado ter a terceira maior população indígena do país: 116,4 mil pessoas (Censo do IBGE, 2022).
Um projeto do Sebrae/MS em parceria com o governo do estado, por meio das secretarias de Turismo, Esporte e Cultura (Setesc) e de Cidadania (Sec), da Fundação de Turismo (Fundtur) e da prefeitura de Nioaque, está mudando essa realidade. O município do sudoeste do estado, a 184 quilômetros de Campo Grande, com seus 1.533 indígenas distribuídos em cinco comunidades, será o primeiro de Mato Grosso do Sul a contar com atividade etnoturística estruturada. O plano de visitação às comunidades foi apresentado no sábado (29), na aldeia Brejão.

“Parabenizo a todos. Para nós, do Sebrae/MS, que trabalhamos em mais de 120 mil empresas por ano em Mato Grosso do Sul e levamos ações para mais de 70 municípios, e em especial para mim, que sou de Nioaque, vir aqui e ver o brilho nos olhos da comunidade é muito bom, me deixa empolgado. Ver um trabalho em que a comunidade é protagonista, em que nós e o governo trazemos as ferramentas, que estão sendo utilizadas por vocês para fazer tudo acontecer, é ótimo. Essa ação já tem 11 meses e vamos continuar com passos firmes, tendo a oportunidade de respeitar a cultura e incluir as pessoas pela geração de renda e pelo trabalho, assegurando autonomia e sustentabilidade”, disse o diretor-superintendente do Sebrae/MS, Cláudio Mendonça, durante o evento.
O plano de visitação engloba as cinco comunidades do município: Brejão, Cabeceira, Água Branca e Taboquinha, da etnia terena, e Vila Atikum, da etnia de mesmo nome, que ocupam os 3.029 hectares da reserva. Foi iniciado a partir de uma consultoria e contou com a participação de mais de 300 pessoas em ações como diagnósticos, oficinas e orientações até a construção dos produtos turísticos.

Segundo o professor Thiago da Silva, um dos membros do Conselho Gestor do Turismo nas comunidades, o projeto nasce com a marca NIOAC e possibilita que cada aldeia abra uma janela para sua história, seus saberes e seu modo de vida. Isso vai assegurar ao turista uma imersão autêntica, educativa e transformadora nas comunidades tradicionais.

Na Aldeia Brejão, por exemplo, a visitação vai focar desde o aspecto histórico da comunidade, fundada em 1904 e considerada um marco de organização e permanência no território, passando por uma imersão no cotidiano terena, o que inclui oficina de grafismo, trilha até a antiga casa de um dos moradores mais tradicionais da aldeia (já falecido), banho no rio Urrumbeva, almoço típico e visita à casa da benzedeira e guardiã dos saberes das ervas da comunidade, Dona Hilda.

O indigenista Bolivar Porto, representando a Fundtur, ressaltou também o protagonismo da comunidade no projeto. “No turismo sempre se discute destinos, empresas, hotéis, infraestrutura e poucas vezes as pessoas. Iniciativas de turismo de base comunitária, como esta, possibilitam justamente o contrário. Elas são o instrumento que faz com que as pessoas sejam protagonistas, que elas cresçam e façam parte ativa dentro do processo turístico”.
Já o subsecretário de Políticas Públicas para Povos Originários da Sec, Fernando Souza, destacou a nova perspectiva que se abre para os indígenas. “É um dia histórico, comemorativo, porque vimos, através dessa ação, que envolve o governo do estado, o Sebrae/MS e a prefeitura, a luz brilhar nos olhos dos talentos indígenas. Eles passaram a se ver, se enxergam, a entender que existem e que são capazes. Eu tenho condição, eu tenho a força, eu tenho a saúde, eu tenho disposição, e eu posso fazer diferença na minha casa, na minha família, na minha comunidade e no nosso município… Tínhamos pessoas que não tinham mais sonhos, famílias que estavam estagnadas e, hoje, elas podem voltar a sonhar”.

O prefeito de Nioaque, André Breno Guimarães, por sua vez, analisou a importância econômica da iniciativa para a comunidade. “Este projeto oferece a perspectiva de autonomia financeira futura para vocês, um legado que desejo deixar para nossa cidade… No contexto do empreendedorismo, este projeto promove a cultura, preserva as tradições e o orgulho indígena. Ao valorizar os trajes e os costumes, o projeto expande a cultura indígena para além de suas fronteiras, integrando-a ao desenvolvimento local e à geração de emprego e renda… O turismo, uma das maiores indústrias do mundo, representa uma fonte de recursos significativa, e a consolidação deste projeto nos traz tranquilidade e certeza de seu sucesso”.
O cacique Ademir da Silva, da Aldeia Brejão, ressaltou a oportunidade de compartilhar a história da comunidade. “Nossa cultura sempre esteve aqui. Agora, poderemos mostrá-la ao mundo de forma organizada, com respeito e geração de renda. É um avanço para todas as aldeias envolvidas”, afirmou.

Para preparar a comunidade para desenvolver profissionalmente a atividade turística, o Sebrae/MS e seus parceiros capacitaram os moradores da aldeia em cursos de condução em ecoturismo, fotografia, redes sociais, comunicação e no Empretec. Na apresentação do plano, foi exibida uma pequena mostra do que espera o visitante das aldeias, tanto em apresentações típicas, como as danças Sipu Terena e da Ema, quanto em produções de artesanato e gastronomia típicas.
Para divulgar os roteiros, o projeto já conta com um site (veja abaixo) que apresenta e comercializa os atrativos, o endereço é www.nioac.com.br






