05/12/2025 08:24

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Temperaturas altas: como manter a casa fresca sem depender do ar-condicionado

A COP30, realizada recentemente no Brasil, reforçou a urgência da crise climática ao apontar que o país pode enfrentar um aquecimento de 4°C a 4,5°C acima dos níveis pré-industriais — um cenário que intensificaria ondas de calor, noites abafadas e eventos extremos.

Mesmo sem consenso internacional sobre a eliminação dos combustíveis fósseis, o alerta já se traduz no cotidiano: as temperaturas elevadas têm levado famílias a repensarem as próprias casas, buscando maneiras de frear o calor e reduzir a dependência do ar-condicionado.

Segundo a arquiteta e urbanista Lusianne Azamor, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Estácio, o primeiro passo para enfrentar o calor em casa é compreender que ele não surge do nada: ele vem de fontes externas e internas.

“A gente precisa controlar o ganho de calor que vem da radiação solar. O sol bate no telhado, nas paredes, nas janelas. Tudo isso esquenta e leva calor para dentro do ambiente”, explica. Ela destaca que paredes mais grossas, materiais adequados e, principalmente, a correta orientação das fachadas ajudam a reduzir significativamente esse efeito. Ao mesmo tempo, há o calor produzido na própria casa. “Nós, as pessoas, emitimos calor, e os aparelhos também. Televisão, lâmpadas, eletrodomésticos, por exemplo, geram calor”, lembra.

Para Lusianne, ventilação, luz e sombra não são detalhes, mas condicionantes fundamentais de um bom projeto. A orientação solar determina boa parte do conforto térmico ao longo do ano. No hemisfério sul, a fachada norte recebe sol praticamente o tempo todo e, por isso, deve ser tratada com cuidado ao acomodar janelas. O sol da manhã, mais brando, costuma ser direcionado a ambientes íntimos, como quartos, mas o sol da tarde — especialmente vindo do oeste — é o mais desafiador.

“O oeste é aquela orientação que a gente tenta evitar. E quando não tem como evitar, usamos mecanismos como janelas com persianas, venezianas, brises, ou até uma barreira vegetal, com arborização e arbustos”, explica. Já a fachada sul é considerada mais fresca e permite aberturas generosas, pois recebe menos incidência solar direta ao longo do ano.

Verde é prioridade 

Um dos pontos em que a arquiteta mais insiste é a importância do verde — não apenas como paisagem, mas como infraestrutura climática. Ela destaca que a vegetação proporciona sombreamento e ajuda a resfriar o ambiente pela evapo­transpiração: as plantas liberam vapor de água e, com isso, refrescam o entorno. Além disso, quebram o efeito de ilha de calor causado por superfícies impermeáveis e materiais que acumulam temperatura.

“O verde faz muita diferença. Ele reduz a retenção de calor, melhora o microclima e pode transformar um ponto quente em um ponto de frescor”, afirma. Ela lembra ainda que muitas cidades já incorporam exigências de arborização, permeabilidade do solo e soluções baseadas na natureza em seus planos diretores justamente por reconhecerem a relação direta entre vegetação, conforto térmico e bem-estar.

O verde não precisa estar apenas nas calçadas ou nas grandes áreas públicas. Dentro dos lotes e das casas, ele pode aparecer nas áreas gramadas, em jardins, na arborização do entorno imediato e até como parte da própria construção. “A gente volta para estratégias como telhados verdes e paredes verdes, que funcionam muito bem. A vegetação na própria edificação contribui para climatizar o ambiente e reduzir o calor interno”, explica. Segundo ela, essas soluções podem ser implantadas tanto em obras novas quanto em reformas, desde que haja planejamento e escolha adequada de espécies e sistemas.

Estrutura 

Para quem não pretende iniciar uma grande obra, ainda existem recursos simples e acessíveis que fazem diferença. A arquiteta destaca as pinturas externas claras, especialmente o branco, que refletem boa parte do calor; o uso de cortinas, persianas e venezianas, capazes de barrar a radiação direta; e a instalação de mantas térmicas no forro, que reduzem o calor que desce do telhado para os ambientes. Ela ressalta que, embora a ventilação mecânica continue sendo uma aliada, o ventilador consome muito menos energia do que o ar-condicionado e pode funcionar bem quando o restante do projeto colabora.

Os materiais também merecem atenção. “Materiais que não retêm tanto calor, ou que demoram menos para dissipar essa temperatura, ajudam muito”, explica. A escolha errada pode transformar a casa em um acumulador de calor, enquanto a escolha correta ajuda a manter a temperatura mais estável ao longo do dia.

Para Lusianne, o enfrentamento das altas temperaturas passa por uma combinação de estratégias: orientação solar adequada, ventilação cruzada, presença de vegetação, soluções construtivas inteligentes e escolha de materiais apropriados. “Com um bom projeto, conseguimos minimizar bastante o uso do ar-condicionado. É possível ter conforto térmico, consumir menos energia e viver em espaços mais agradáveis”, conclui.

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