Workshop reuniu mais de 25 pesquisadores e especialistas para alinhar critérios técnicos sobre nutrientes e emissões em cultivos de baixo carbono.
Da Redação

A Embrapa Meio Ambiente promoveu no fim de outubro, o Workshop sobre adubação em sistemas de produção e compartilhamento de nutrientes entre culturas, reunindo mais de 25 pesquisadores e especialistas em fertilizantes e contabilidade de carbono. O encontro, coordenado pelas pesquisadoras Nilza Patrícia Ramos e Marília Folegatti, teve como objetivo alinhar critérios técnicos e conceituais para calcular a pegada de carbono associada à adubação em sistemas agrícolas integrados.
De acordo com Nilza Patrícia Ramos, o principal desafio do grupo foi consolidar um entendimento comum sobre como tratar a adubação na contabilidade de carbono dos produtos agrícolas. As discussões se concentraram nos três principais nutrientes exportados pelas culturas, nitrogênio, fósforo e potássio, considerando o comportamento de cada um no sistema solo, planta e atmosfera. “É um tema central para a agricultura de baixo carbono e precisa ser tratado de forma sistêmica”, afirmou a pesquisadora.
A abordagem ganha importância diante da expansão dos programas de valorização de cultivos de baixo carbono no Brasil, liderados pela Embrapa. O pioneiro foi o Programa Soja Baixo Carbono, que abriu caminho para outras iniciativas como Trigo, Milho, Sorgo e Frutas Baixo Carbono. Esses programas adotam protocolos de boas práticas agrícolas aliados a ferramentas de contabilidade de carbono baseadas na Avaliação do Ciclo de Vida, que mede as emissões e remoções de gases de efeito estufa em todas as etapas da produção.
Segundo Marília Folegatti, a ferramenta de cálculo está sendo desenvolvida de forma integrada, respeitando as particularidades da agricultura nacional. “Nosso objetivo é gerar resultados de pegada de carbono individualizados por produto, mas levando em conta o compartilhamento de operações e insumos entre diferentes culturas”, explicou. Em sistemas de sucessão ou rotação, insumos como fertilizantes beneficiam mais de uma cultura e isso precisa ser refletido nos cálculos de emissões, observou ela.
O workshop contou com a participação de pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente, Agricultura Digital, Agropecuária Oeste, Milho e Sorgo, Soja, Suínos e Aves e Trigo, além de consultores de empresas privadas. A Embrapa Milho e Sorgo foi representada por Alexandre Ferreira da Silva, Álvaro Vilela de Resende, Arystides Resende Silva e Ciro Augusto de Souza Magalhães, que compartilharam experiências sobre práticas de adubação e suas implicações no balanço de carbono.
De acordo com Álvaro Resende, em sistemas como soja/milho ou soja/sorgo, é comum antecipar a aplicação de fósforo e potássio antes da semeadura da soja, prática frequente em regiões do Cerrado. “Essa estratégia busca otimizar o uso de fertilizantes e o rendimento operacional, e o desafio está em atribuir corretamente o impacto de carbono a cada cultura”, afirmou. Já Ciro Magalhães destacou que a alocação de nutrientes deve considerar a exportação pelos grãos e o efeito residual dos fertilizantes.
“A pegada de carbono precisa refletir a demanda real de cada cultivo no sistema de produção”, completou.Como exemplo, Alexandre Ferreira explicou que a adubação antecipada com fósforo, feita antes do plantio da soja, deve ter seu impacto de emissões de gases de efeito estufa compartilhado com o milho da segunda safra, de forma proporcional ao uso de nutrientes. “No caso do nitrogênio, a alocação é feita conforme o uso em cada cultura, enquanto o potássio depende de fatores como a capacidade de troca de cátions do solo e o tempo de uso da área”, detalhou.
Os resultados do encontro subsidiarão publicações técnicas e científicas que orientarão a contabilidade dos Programas Baixo Carbono da Embrapa. A iniciativa faz parte das ações da Rede Embrapa de Programas de Baixo Carbono, que reúne mais de 21 unidades da instituição dedicadas ao avanço da agricultura de baixo carbono no país.





