Evento em Dourados apresentou soluções digitais para o setor sucroenergético e debateu os avanços tecnológicos que aumentam a eficiência e sustentabilidade dos canaviais.
Da Redação

O uso de tecnologias digitais no monitoramento agrícola foi o principal destaque do 10º Ciclo de Seminários Agrícolas CanaMS 2025, encerrado no dia 23 de outubro na sede da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados. Com o tema “Preparo do Solo e Plantio”, o evento reuniu produtores, técnicos e representantes do setor sucroenergético em busca de novas soluções para otimizar a produtividade e a sustentabilidade das lavouras de cana-de-açúcar.
Entre as apresentações, chamou a atenção a palestra do pesquisador Geraldo Magela de Almeida Cançado, da Embrapa Agricultura Digital, que demonstrou o funcionamento da ferramenta de modelagem desenvolvida pela instituição para previsão de safra via satélite. O sistema, criado em parceria com outras instituições de pesquisa, utiliza dados de sensoriamento remoto e variáveis ambientais, como índices de vegetação, precipitação e temperatura, para estimar com até 80% de precisão a produtividade da cana-de-açúcar.
Durante a apresentação, Cançado explicou que a tecnologia permite o acompanhamento contínuo das lavouras, antecipando estimativas de produção de talhões, fazendas ou regiões inteiras. “A tecnologia de satélite é uma ferramenta poderosa de predição. Com ela, conseguimos antecipar a expectativa de produção e gerar informações estratégicas para produtores, usinas e gestores públicos”, afirmou.
O pesquisador destacou que a ferramenta auxilia diretamente na tomada de decisão em tempo real. “Os produtores e as usinas podem acompanhar o desenvolvimento das lavouras, planejar a colheita, ajustar a oferta de matéria-prima e identificar fatores que possam comprometer a safra, como seca, pragas ou doenças, possibilitando ações preventivas”, explicou.
Cançado ressaltou ainda que a pesquisa segue avançando na adaptação do modelo para diferentes regiões produtoras. “Cada ambiente de produção tem suas particularidades, como tipo de solo e regime de chuvas. Por isso, é necessário calibrar o modelo para garantir alta confiabilidade, como estamos fazendo agora em Mato Grosso do Sul”, disse. O pesquisador também mencionou que os primeiros testes ocorreram em São Paulo, em parceria com a Coplacana e a empresa Simbiose, e que a meta é ampliar a base de dados e validar a ferramenta em outras áreas do país.
Outro desafio, segundo ele, é tornar a tecnologia mais acessível. Parte das imagens usadas é obtida de plataformas comerciais, como a PlanetScope, que tem alto custo. “Estamos trabalhando para adaptar os modelos ao uso de dados gratuitos, como os dos satélites Sentinel-2 e MODIS, sem perda significativa de precisão. Isso permitirá o acesso a produtores de diferentes portes”, completou.
A equipe da Embrapa também busca desenvolver uma API para disponibilizar os algoritmos de predição de produtividade de forma aberta, permitindo integração com sistemas de empresas e produtores. “Nosso objetivo é expandir o uso da metodologia para outras culturas, como soja e milho”, revelou o pesquisador.
O chefe-geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Harley Nonato de Oliveira, destacou que o CanaMS se tornou um espaço consolidado de integração entre pesquisa, tecnologia e o setor produtivo. “Encerrar este ciclo com temas tão atuais e com a presença de especialistas reforça a importância da troca de conhecimento para o avanço da cadeia da cana-de-açúcar em Mato Grosso do Sul”, afirmou.
José Trevellin Jr., CEO da TCH Gestão Agrícola, parceira na realização do evento, destacou que o sucesso do CanaMS reflete o esforço conjunto de todos os elos do setor. “Ao longo de dez anos, construímos uma trajetória sólida com a Embrapa e demais parceiros, sempre com foco na troca de conhecimento e na evolução técnica do setor”, ressaltou.
A programação contou ainda com palestras de Érico Paredes, diretor técnico da Biosul, que abordou as perspectivas da bioenergia no estado. Segundo ele, o Brasil está vivendo um momento histórico de novos acordos comerciais e novos players. De acordo com os dados apresentados, o setor sucroenergético brasileiro equivale a aproximadamente a 2% do PIB nacional e é responsável por 39% de toda a produção de cana-de-açúcar no mundo. Mato Grosso do Sul é o 4º maior produtor de etanol total no Brasil, com produção de 4,2 bilhões de litros na safra 2024/25.
“Temos espaço para desenvolvermos etanol, seja de cana, milho ou outra cultura, SAF (combustível de avião), bunker, alcoolquímica, E30 e hidratado. São desafios diferentes, mas são cenários favoráveis, e também precisamos de pessoas capacitadas. São muitas frentes que temos que trabalhar e parcerias com a Embrapa e o Sistema S são essenciais para progredirmos e avançarmos”, disse Paredes.

Em seguida, o representante da Ubyfol, Alexandre Braga, trouxe uma fala sobre como potencializar o desenvolvimento do canavial mesmo em anos de clima adverso. Já o supervisor agrícola de Fertirrigação da Atvos, Alex Antônio Andrade, apresentou resultados sobre a evolução e o manejo do controle da mosca-dos-estábulos, destacando estratégias integradas para reduzir impactos sobre a produtividade. O consultor de produto do CTC, Guilherme Castioni, falou sobre preparo do solo voltado a um futuro de baixo carbono, ressaltando práticas de manejo conservacionista e sustentabilidade.
O consultor fitopatologista, Abel Torres e o representante técnico William Arnt, ambos também do CTC, encerraram a programação com uma exposição sobre a plataforma ESFERA e as descobertas da síndrome da murcha da cana-de-açúcar. Com o encerramento da décima edição, a organização anunciou que, a partir de 2026, o ciclo passará a ter duas edições anuais, mantendo o foco na disseminação de conhecimento técnico e na valorização da inovação agrícola.





